Nunca tenha medo do seu inimigo. Quando não é você que começa brigar
Quando eu era criança, eu tinha medo de muitas coisas. Entre elas, coisas que ninguém mais via. Logo, eu não sabia explica-las.
Eu tinha medo também de dormir sozinha, no começo minha mãe e meu pai tentavam me acompanhar, faziam orações comigo. Mas eu fui crescendo o suficiente para eles entenderem que já era hora de eu encarar meus medos.
Então, como uma tentativa de me fazer vencê-los, eles trancavam a porta do quarto deles e mesmo que eu batesse eles não abriam, salvo raras exceções.
Como uma tentativa de fuga, eu praticamente acampava durante a madrugada na porta do quarto deles, levava meu cobertor, ficava encostada e assim sentia a sensação de estarmos quase juntos.
Especificamente o que eu tinha medo era de estar sozinha, mas não do bicho papão, ESTAR SOZINHA.
As vezes eu ia até a janela, ou só pensava em estar olhando por ela e meus olhos buscavam por algum avião no céu, enquanto eles estivessem lá, eu não estaria só.
Era isso, os aviões me consolavam. Não me lembro ao certo o que me fez deixar de ter medo, mas o tempo foi colocando novas coisas na minha vida e a pulso eu tive que dormir.
Mais tarde, com 16 anos eu me mudei pra casa da minha avó na Cidade Edson, eu ficava em um espaço só pra mim, lá fiz uma sala, quarto e tinha um banheiro. As vezes não conseguia dormir; era uma consequência de outros demônios que me assombravam, mas não era medo. E as vezes nem era nada, era só uma lagoa de pensamentos incontroláveis que faziam com que eu ficasse acordada. Naquele espaço eu ficava sozinha, olhando pro céu mas 0 medo e me lembrando que em algum dia aquele momento poderia ter sido o maior significado de medo.
Eu amo voar de avião e pense como amo voar a noite! por vários motivos; ver as estrelas, ver um mapa de satélites.
E quem tá voando esquece que tem uma vida inteira acontecendo abaixo.
E esporadicamente penso, quando estou voando, que transcendi o medo. Que hoje viajo sozinha, seja nas estrelas, terrestres, peregrinando. Que dou muito valor por uma noite de sono só e bem dormida e sempre repito “é melhor só do que mal acompanhada.”, cruzei trilhas sozinhas e fiz amizade com a noite para nunca mais me sentir só.
Mas não deixe se enganar, aqui eu saro alguns medos, mas outros novos me alcançam e eu fico tentando achar outros céus para quais eu possa olhar.
Escrevo isso de um lugar que estou só mas não sinto medo por isso, sinto um turbilhão de outros sentimentos. Começo a acreditar que esse medo nasce da margem do ócio que tenho só, quase como uma folha em branco.